Exponho o primeiro dos comentários que farei em relação ao ciclo de conferências "Para ouvir uma canção" que começou hoje no Rio de Janeiro, na Caixa Cultural. A simpatia da fala de hoje trouxe algumas provocações que gostaria de compartilhar com vocês. O tema - "O sexo na MPB - A evolução do comportamento afetivo e sexual do brasileiro através dos tempos" - esteve na responsabilidade de Rodrigo Faour. Ao levantar alguns aspectos comportamentais através da MPB, lugares de produção de sentido questináveis evidenciavam-se. As colocações foram baseadas no livro de autoria do conferencista - "História Sexual da MPB" - e interessadas nos seguintes pontos:
1) A tristeza na MPB como sendo algo que se dá até os anos 60.
2) O machismo ancestral na MPB.
3) Década de 70 como sua grande década transformadora: boom de sexualidade e homossexualidade. As cantoras ficam mais sensuais e as canções mais transgressoras.
4) Negra e mulata sempre tendo sido mais erotizadas.
5) Erotismo mais rasgado desde Domingos Caldas Barbosa. Aproximação do maxixe com o funk carioca.
Na medida em que pontuava sua abordagem da MPB, o pesquisador musical e jornalista, como é referendado, afirmava questões como:
a) "Música é catarse".
b) "A música é apenas um reflexo e veículo da sociedade".
c) "Odair José e Wando nunca foram machistas".
d) Ao ser questionado sobre o por quê de poucas letras falarem de homem, respondera da seguinte maneira: "Na MPB existem poucas compositoras heterossexuais - eu citaria umas quatro".
e) "Música é diversão e, muitas vezes,intelectualizar a nova loira do Tchan, não dá".
f) "Música, dos anos 80 em diante, é um detalhe... O que vale é o conceito e não só a música em si".
g) Ao exemplificar os altos e baixos da MPB, artistas que aparecem na mídia e depois somem: " O Brasil é um país que não preserva a memória".
f) Ao ser questionado sobre o fato de pouco abordar a música feita em Minas Gerais: "Isso é uma outra coisa... Que fala da natureza, de política..."
Diante dessas colocações sugiro que elas sirvam de dispositovos para nossas formulações críticas. Se me permitem, arriscaria algumas...
* Não questionando a legitimidade dos pontos levantados na presente conferência penso em que medida seria possível considerarmos determinados aspectos da MPB como sendo ou isso ou aquilo? Como exemplo:
- O fato de Chico Buarque compor "Bárbara" poder ser visto como uma perspectiva mais digna para a homossexualidade a partir dos anos 70;
- O fato de haver poucas composições que tratam do homem como objeto de desejo se dever à existência de uma minoria de compositoras heterossexuais...
A MPB não deveria ser vista para além de questões identitárias de gênero e afins? Ou Chico Buarque precisou se transformar em uma mulher lésbica para compor "Bárbara"?
* Música é catarse?
* A música é apenas reflexo e veículo da sociedade?
* Música é diversão e, muitas vezes, intelectualizar "a nova loira do Tchan", não dá mesmo?
* Que outra coisa seria de fato a música feita em Minas Gerais, sobretudo, a partir dos anos 70, que não só paisagem e militância?
* Como artticular indústria cultural, música como conceito e mercado com o fato de o Brasil não ser um país que preserva a memória, no caso, da MPB?
Não sei se espero respostas exatas. Mais do que isso, que a gente possa criar pontos de contato com o cena atual de pesquisa em música e assumir posições...
Até a próxima conferência, "A canção polifônica" (Santuza Cambraia Naves).
1) A tristeza na MPB como sendo algo que se dá até os anos 60.
2) O machismo ancestral na MPB.
3) Década de 70 como sua grande década transformadora: boom de sexualidade e homossexualidade. As cantoras ficam mais sensuais e as canções mais transgressoras.
4) Negra e mulata sempre tendo sido mais erotizadas.
5) Erotismo mais rasgado desde Domingos Caldas Barbosa. Aproximação do maxixe com o funk carioca.
Na medida em que pontuava sua abordagem da MPB, o pesquisador musical e jornalista, como é referendado, afirmava questões como:
a) "Música é catarse".
b) "A música é apenas um reflexo e veículo da sociedade".
c) "Odair José e Wando nunca foram machistas".
d) Ao ser questionado sobre o por quê de poucas letras falarem de homem, respondera da seguinte maneira: "Na MPB existem poucas compositoras heterossexuais - eu citaria umas quatro".
e) "Música é diversão e, muitas vezes,intelectualizar a nova loira do Tchan, não dá".
f) "Música, dos anos 80 em diante, é um detalhe... O que vale é o conceito e não só a música em si".
g) Ao exemplificar os altos e baixos da MPB, artistas que aparecem na mídia e depois somem: " O Brasil é um país que não preserva a memória".
f) Ao ser questionado sobre o fato de pouco abordar a música feita em Minas Gerais: "Isso é uma outra coisa... Que fala da natureza, de política..."
Diante dessas colocações sugiro que elas sirvam de dispositovos para nossas formulações críticas. Se me permitem, arriscaria algumas...
* Não questionando a legitimidade dos pontos levantados na presente conferência penso em que medida seria possível considerarmos determinados aspectos da MPB como sendo ou isso ou aquilo? Como exemplo:
- O fato de Chico Buarque compor "Bárbara" poder ser visto como uma perspectiva mais digna para a homossexualidade a partir dos anos 70;
- O fato de haver poucas composições que tratam do homem como objeto de desejo se dever à existência de uma minoria de compositoras heterossexuais...
A MPB não deveria ser vista para além de questões identitárias de gênero e afins? Ou Chico Buarque precisou se transformar em uma mulher lésbica para compor "Bárbara"?
* Música é catarse?
* A música é apenas reflexo e veículo da sociedade?
* Música é diversão e, muitas vezes, intelectualizar "a nova loira do Tchan", não dá mesmo?
* Que outra coisa seria de fato a música feita em Minas Gerais, sobretudo, a partir dos anos 70, que não só paisagem e militância?
* Como artticular indústria cultural, música como conceito e mercado com o fato de o Brasil não ser um país que preserva a memória, no caso, da MPB?
Não sei se espero respostas exatas. Mais do que isso, que a gente possa criar pontos de contato com o cena atual de pesquisa em música e assumir posições...
Até a próxima conferência, "A canção polifônica" (Santuza Cambraia Naves).
Olá Fabrícia,
ResponderExcluirestou na organização do evento e quero dizer que gostei muitíssimo de sua avaliação da primeira conferência.
parabéns.
sou doutorando e pesquisador de canção. colocarei este blog entre meus favoritos.
convido-os a conhecer o meu projeto 365 canções:
http://www.365cancoes.blogspot.com/
e o desdobramento dele:
http://lendocancao.blogspot.com/
Abraço
Leonardo Davino
Valeu Fabrícia! Excelente resenha! Aguardo ansiosamente a próxima.
ResponderExcluirOi Leonardo!Nós estamos sempre nos esbarrando, né? Tivemos juntos em um evento na UERJ ou UFRJ onde você falava de Arnaldo Antunes e eu de Caetano quando eu estava na graduação ainda... Continua ainda nesse tema? Estou no mestrado estudando a canção feita em Minas Gerais com Milton Nascimento... Outrora podiamos marcar um café, que tal? Beijos, bem vindo e continue contribuindo com nosso blog...Vou olhar os que você sugeriu e seguir.
ResponderExcluirOlá Pedro!Resolvi fazer esses comentários como forma de agradecimento e troca devido ao fato de ter conseguido vir ao ciclo de conferências... Que bom que essa primeira pode contribuir conosco... Até a próxima!
ResponderExcluirFabrícia, excelente contribuição. Pode considerar-se "correspondente" da nossa Oficina no Ciclo.
ResponderExcluirÉ claro que as questões que você postou, para serem discutidas, demandariam um longo "testamento". Mas podemos tratar de algumas delas, oralmente, durante os encontros.
Quero pontuar apenas duas coisas:
- A canção, por suas especificidades de circulação, requer uma presença maior, se não do compositor, pelo menos do intérprete - isso relativiza um pouco a noção (que para a literatura é mais tranquila) de "eu-lírico", que nunca se confunde com o autor, pessoa física, etc etc.
A figura que se apresenta junto com a música, pelo menos, a voz que se expõe, é muito mais facilmente confundida com o enunciador ficcional. Há um "corpo presente", que muitas vezes não é visto/ouvido como o de um ator, apenas "incorporando" um personagem.
Isso se torna necessário mesmo para a criação dos "mitos", dos "reis", etc.
Um exemplo engraçado é você ver o Chico Buarque colocando uma cantora, Jane, para gravar "Com açúcar, com afeto", justificando que não gravou a canção, ele mesmo em seu disco, por "motivos óbvios" ( http://www.chicobuarque.com.br/discos/mestre.asp?pg=chico_67.htm ). Não é curioso? Ele compôs, mas preferiu não interpretar, o que só foi fazer depois da explosão tropicalista, no disco ao vivo com a Bethânia.
Não só é curioso ver a atitude do Chico, como isso situa sua dimensão não ficcional em um lugar que ao mesmo tempo que é conservador ilumina essa confusão entre enunciador ficcional e e não ficcional. Não há como negar que a "explosão tropicalista" foi um marco importantíssimo para a cultura brasileira e que muitos aspectos comportamentais só foram possíveis com ela, inclusive o fato de Chico cantar a partir dela a canção antes omitida. Por um outro lado, há uma tendência machista apresentada pela letra de "Com açúcar, com afeto" que coloca a mulher no lugar de conformação e, nesse sentido talvez tenha sido interessante Chico não deixar-se confundir com esse enunciador da canção mas sua voz como algo que transporta a vida pro palco... Curioso e gostoso é esse vídeo. A melodia delicada e a harmonia bossanovística tensionam e enfatizam o lugar feminino as canções que são entodas sem nenhum pudor por Chico e Caetano - http://www.youtube.com/watch?v=TB6Cpy-X7A8
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