sexta-feira, 27 de maio de 2011

Convite Cultural

Galerinha, vai rolar nesse final de semana o Corredor Cultural de JF... Divirtam-se e vejam MATILDA no domingo,29/05, 16h, no Museu Ferroviário. É o esquenta pro show das Chicas 21h.


Aí vai o link com a programação:
http://www.pjf.mg.gov.br/funalfa/corredor_cultural/programa2011.pdf

Canção de protesto

Até Quando?
Gabriel O Pensador

Não adianta olhar pro céu, com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea?
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média).
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura.

Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ser saco de pancada?

Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente, seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante, você tá sem emprego e a sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo, você que é inocente foi preso em flagrante!
É tudo flagrante! É tudo flagrante!

Refrão

A polícia matou o estudante, falou que era bandido, chamou de traficante.
A justiça prendeu o pé-rapado, soltou o deputado... e absolveu os PMs de vigário!

Refrão

A polícia só existe pra manter você na lei, lei do silêncio, lei do mais fraco: ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco.
A programação existe pra manter você na frente, na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você.
Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar.
O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar.
E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar
Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá.
Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar.
Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar.
Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar?
Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar.
Escola, esmola!
Favela, cadeia!
Sem terra, enterra!
Sem renda, se renda!
Não! Não!!

Refrão

Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente.
A gente muda o mundo na mudança da mente.
E quando a mente muda a gente anda pra frente.
E quando a gente manda ninguém manda na gente.
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura.
Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro!
Até quando você vai ficar levando porrada, até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
Até quando você vai levando?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Canções de Protesto

Trilogia Macabra: I - O Torturador

O torturador
difere dos outros
por uma patologia singular
— ser imprevisível
vai da infantilidade total
à frieza absoluta.

Como vivem recebendo
elogios e medalhas
como vivem subindo de posto,
pouco se importam pelos outros.
Obter confissões é uma arte
o que vale são os altos propósitos
o fim se justifica,
mesmo pelos meios mais impróprios.

Além de tudo o torturador,
agente impessoal que cumpre ordens superiores
no cumprimento de suas funções inferiores,
não está impedido de ser um pai extremoso
de ter certos rasgos
e em alguns momentos ser até generoso.

Além disso acredita que é macho, nacionalista,
que a tortura e a violência
são recursos necessários
para a preservação de certos valores
e se no fundo ele é um mercenário
sabe disfarçar bem isso
quando ladra.

Não se suja de sangue
não macera nem marca,
(a não ser em casos excepcionais)
o corpo de suas vítimas,
trabalha em ambientes assépticos
com distanciamento crítico
— não é um açougueiro, é um técnico —
sendo fácil racionalizar
que apenas põe a serviço da pátria
da civilização e da família
uma sofisticada tecnologia da dor
que teria de qualquer maneira
de ser utilizada contra alguém
para o bem de todos.


In: ALVERGA, Alex Polari de. Inventário de cicatrizes. Apres. Carlos Henrique de Escobar. 3.ed. São Paulo: Teatro Ruth Escobar; Rio de Janeiro: Comitê Brasileiro pela Anistia, s.d



sábado, 14 de maio de 2011

Martín Fierro, os gauchos e a payada (3)

Filme "Martín Fierro" de Leopoldo Torre Nilsson (diretor argentino)

Leopoldo Torre Nilsson (Buenos Aires, 5 de mayo de 1924 — Buenos Aires, 8 de septiembre de 1978) foi diretor e productor cinematográfico argentino.

A seguir, dois trechos no filme, exemplos de payada com versos do Martín Fierro, e presença do negro na nossa cultura, escassa e mínima. Aqui, o filho do negro que Martin Fierro matou anos antes por causa da zombaria dele perante a mãe (chamou ela de vaca no verso "Va...cayendo gente al baile". O negro lamenta na payada a morte do pai em desafio a facão e a humilhação da mãe.

http://www.youtube.com/watch?v=s9CC1bsGDAA&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=x-DcfvfOL9Y&NR=1

Martín Fierro, os gauchos e a payada (2)

A payada

A payada, no Paraguay, no Uruguai, sul do Brasil e Argentina, e a paya no Chile, é uma arte pertencente à cultura hispánica, que adquiriu un grande desenvolvimento no Cone Sul da América, no qual uma pessoa, o payador, improvisa um recitado em rima, cantado e acompañado de um violão (guitarra espanhola). Quando a payada é em dupla ou duetto se denomina contrapunto e toma a forma de um desafio cantado a dois violões (guitarras espanholas), no qual cada payador deve responder payando as perguntas do seu concorrente, para depois passar a perguntar do mesmo modo. Estas payadas em dupla costumam durar horas, às vezes dias, e terminam quando um dos cantores não responde imediatamente à pergunta do seu concorrente.

Em 23 de julho de 1884 se faz em Montevideu a famosa payada entre Juan Nava e Gabino Ezeiza. Em homenagem, na Argentina se estableceu como o Día do Payador.

Em 10 de novembro de 1834 nasce José Hernández, autor do Martín Fierro. Por ello se festeja esse dia na Argentina como Dia da Tradição. Tem vários concursos com cavalos, doma, payadas, etc.

A seguir, exemplos de payadas (em espanhol e português) e desafio de payada com rap em espanhol no Uruguai em 2010.

http://www.youtube.com/watch?v=b_HhJwWc9Os&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=CMDS3RVn4h0&feature=related

http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/3670

Martín Fierro, os gauchos e a payada (1)

A seguir, publico alguns assuntos tratados respeito do Martín Fierro, os gauchos e a payada:

Os gauchos:

Etimología da palavra gaucho (Tradução Wikipedia em espanhol): Existem várias teorías sobre a origem del vocábulo, entre outras hipoteses, que pode ter sido derivado do quichua "huachu" (órfão, vagabundo) ou do árabe "chaucho" (um chicote utilizado no arado de animais). No árabe mudéxar existia a palavra "hawsh" para significar ao pastor e ao sujeito vagabundo, por outra parte tem se assinalado a provável influência de inmigrantes moriscos clandestinos na genese da gauchagem, tal qual o indicava Diego de Góngora nos seus informes capitulares para a coroa espanhola. Ainda hoje em Andalucia —especialmente na lingua cigana caló— se fala em "gacho" para significar ao camponês e, de modo figurativo, ao amante de uma mulher.

No século XVIII Concolorcorvo fala de "gauderios" quando fala de gauchos ou huasos, gauderio parece ser una espécie de "latinização" das palavras citadas, latinização associada ao termo latino —muito conhecido então, já que era usual na liturgia católica— gaudeus, que significa "gozo", e mesmo "libertinagem", ou seja a palavra "gaucho" como a palavra "huaso" —metatese uma da outra— parecem induvitávelmente plurietimológicas, e forjadas em um contexto temporal e territorial específico, o âmbito ganadeiro do Cone Sul, na região pampeana ou pampa argentina.

O primeiro uso documentado do termo data dos anos da indepêndencia argentina, declarada em 9 de julho de 1816. Porém estaria sendo utilizado desde 1770.

A origem da palavra gaucho, como a de tantas otras do Novo Mundo, tem dado lugar as mais variadas e não poucas vezes alucinantes teorias filológicas".

As primeras referências escritas a los gauchos se encuentran a comienzos del siglo XVII, utilizando de termos como "mancebos", "mancebos da tierra", "moços perdidos", "moços vagabundos", "crioulos da tierra", "changadores".

Em meados do século XVII começou a se utilizar a palabra "gauderio" para designar a esse grupo social. Pouco depois aparece a palavra "gaucho", encontrada pela primera vez escrita em um documento oficial da Banda Oriental (hoje Uruguai) em 1771, sendo já de uso generalizado para o fim do século XVIII.

A grande região do Cone Sul, apenas conhecida pelas autoridades espanholas e portuguesas também era un refugio para fugitivos das leis opressivas das autoridades coloniais e poscoloniais e escravos fugidos.

Nas últimas décadas do século XVIII e primeiras do século XIX a palavra gaucho se extendeu por toda a região, para designar aos trabalhadores livres que viviam do gado bovino selvagem (ou chimarrão, "ganado cimarrón") das pampas. Inicialmente o termo era usado pejorativamente, mas já na segunda e terceira década do século XIX, a palavra começou a perder sua conotação pejorativa, por conta da causa federalista iniciada por José Artigas, héroi uruguaio, liderando uma aliança de províncias integrada pelas províncias de Córdoba, Corrientes, Entre Ríos, Misiones (incluindo nessa época também às Missões Orientais), a Província Oriental e a de Santa Fe, os gauchos fizeram parte dos exércitos federais contra os unitários (elite letrada), que queriam o poder concentrado em Buenos Aires.

O amor em perspectiva: Dois discursos masculinos no tango de Goyeneche e dois discursos femininos na dor de cotovelo de Maysa (2)

A seguir, as músicas que correspondem a esse assunto:

Ouça(1957) Letra: Maysa. Música: Maysa.

Ouça, vá viver
Sua vida com outro bem
Hoje eu já cansei
De pra você não ser ninguém

O passado não foi o bastante
Pra lhe convencer
Que o futuro seria bem grande
Só eu e você

Quando a lembrança
Com você for morar
E bem baixinho
De saudade você chorar

Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar

Quando a lembrança
Com você for morar
E bem baixinho
De saudade você chorar

Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar

Para escutar OUÇA: http://www.youtube.com/watch?v=zdI-nB18QIw

Meu Mundo Caiu (1958) Letra: Maysa. Música: Maysa.

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar

Para escutar MEU MUNDO CAIU (video televisão japonesa):
http://www.youtube.com/watch?v=BgkEb_EHaP0&feature=related

E também MEU MUNDO CAIU (melhor som):
http://www.youtube.com/watch?v=f_2MtwlnLg0&feature=related

O amor em perspectiva: Dois discursos masculinos no tango de Goyeneche e dois discursos femininos na dor de cotovelo de Maysa (1)

A seguir, publico o falado na oficina no dia 13/05/2011 sobre este assunto.

Tango Uno (1950) por Roberto Goyeneche (1926-1994)

Uno (1950) Letra: Enrique Santos Discépolo. Música: Mariano Mores.

Uno busca lleno de esperanzas
el camino que los sueños
prometieron a sus ansias.
Sabe que la lucha es cruel
y es mucha pero lucha y se desangra
por la fe que lo empecina...
Uno va arrastrándose entre espinas
y en su afán de dar su amor,
sufre y se destroza hasta entender
que uno se ha quedao sin corazón...
Precio de castigo que uno entrega
por un beso que no llega
a un amor que lo engañó...
¡Vacío ya de amar y de llorar
tanta traición!
Si yo tuviera el corazón...
(El corazón que di...)
Si yo pudiera como ayer
querer sin presentir...
Es posible que a tus ojos
que me gritan tu cariño
los cerrara con mis besos...
Sin pensar que eran como esos
otros ojos, los perversos,
los que hundieron mi vivir.
Si yo tuviera el corazón...
(El mismo que perdí...)
Si olvidara a la que ayer
lo destrozó y... pudiera amarte...
me abrazaría a tu ilusión
para llorar tu amor...
Pero, Dios te trajo a mi destino
sin pensar que ya es muy tarde
y no sabré cómo quererte...
Déjame que llore
como aquel sufre en vida
la tortura de llorar su propia muerte...
Pura como sos, habrías salvado
mi esperanza con tu amor...
Uno está tan solo en su dolor...
Uno está tan ciego en su penar....
Pero un frío cruel
que es peor que el odio
-punto muerto de las almas,
tumba horrenda de mi amor-
maldijo para siempre
y me robó... toda ilusión...

Para escutar UNO: http://www.youtube.com/watch?v=Gf2BmOwMFlg

Tango Naranjo en Flor (1944)por Roberto Goyeneche (1926-1994)

Era más blanda que el agua,
que el agua blanda.
Era más fresca que el río,
naranjo en flor.
Y en esa calle de estío,
calle perdida,
dejó un pedazo de vida
y se marchó.

Primero hay que saber sufrir,
después amar, después partir
y, al fin, andar sin pensamientos.
Perfume de naranjo en flor,
promesas vanas de un amor
que se escaparon con el viento.

Después, ¿qué importa del después?
Toda mi vida es el ayer
que me detiene en el pasado.

¡Eterna y vieja juventud,
que me ha dejado acobardado
como un pájaro sin luz!

¿Qué le habrán hecho mis manos?
¿Qué le habrán hecho
para dejarme en el pecho
tanto dolor?
Dolor de vieja arboleda,
canción de esquina
con un pedazo de vida,
naranjo en flor.

Para escutar NARANJO EN FLOR: http://www.youtube.com/watch?v=HUs8HNeTlD8

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Chamada de publicação - Darandina Revisteletrônica

Ementa:

Apontamentos sobre a canção brasileira na interface literatura/música


Tem sido cada vez maior o interesse em ler e pesquisar a canção brasileira de
modo interdisciplinar e interdepartamental. Tendo em vista a proliferação de debates
atuais sobre o tema em questão sugerimos discutir e problematizar, em Letras, a
concepção urbana de canção, na clave de reflexão da crítica cultural contemporânea. O
objetivo é pensar a palavra cantada a partir do final dos anos 60 na interface literatura/
música, nos seguintes aspectos: memória, voz, corpo, performance, identidade, nação,
mercado e suportes midiáticos.

Os trabalhos para a 7ª edição serão recebidos até 13 de maio de 2011.

Solicitamos aos nossos colaboradores que observem atentamente as normas técnicas para publicação, disponíveis no site, pois elas sofreram algumas alterações. Também solicitamos aos autores que, ao enviarem seus trabalhos, escrevam no campo assunto” do e-mail o título da ementa desta edição - “Apontamentos sobre a canção brasileira na interface literatura/música”.

Obs.: Os graduandos e os graduados precisam do parecer de um professor do PPG - Estudos Literários.

Comissão editorial da Darandina Revisteletrônica

http://www.ufjf.br/darandina/

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Marcelo Camelo




"Marcelo de Souza Camelo (Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1978) é um compositor, cantor, guitarrista, violinista e poeta brasileiro. Foi vocalista e guitarrista da banda de rock alternativo Los Hermanos. Atualmente, o cantor segue em carreira solo."

(Fonte: Wikipedia)









DESPEDIDA
Eu não sou daqui também marinheiro
Mas eu venho de longe
E ainda do lado de trás da terra além da missão comprida
Vim só dar despedida

Filho de sol poente
Quando teima em passear
desce de sal nos olhos doente da falta de voltar

Filho de sol poente
Quando teima em passear
desce de sal nos olhos doente da falta que sente do mar
Vim só dar despedida


SAMBA A DOIS
Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?
Quem se atreve a me dizer?

Não, eu não sambo mais em vão
O meu samba tem cordão
O meu bloco tem sem ter e ainda assim
Sambo bem a dois por mim
Bambo e só, mas sambo, sim
Sambo por gostar de alguém, gostar de

Me lavra a alma, me leva embora
Deixa haver samba no peito de quem...(chora)

...se atreve a me dizer
Do que é feito o samba ?

Quem me ensinou a te dizer
"Vem que passa o teu sofrer"
Foi mais um que deu as mãos entre nós dois
Eu entendo o seu depois
Não me entenda aqui por mal
Mas pro samba foi vital falar em...

Me laça a alma, me leva agora
Já que um bom samba não tem lugar nem...(hora)

...se atreva a me dizer
Do que é feito o samba
Nem se atreva a me dizer


TEM MAIS SAMBA - Chico Buarque
Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer

Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver


terça-feira, 3 de maio de 2011

Citando Chico

Aproveito as recentes citações do Chico Buarque postadas pela Wal no blog para retomar outro texto dele, que comentei em um dos primeiros encontros da oficina. "Nem toda loucura é genial, nem toda lucidez é velha" foi publicado no jornal Última Hora, em 09/12/68. O texto situa um momento de embates e contradições na MPB propício para modalizar questões da cultura que costumam levantar polêmicas e demarcações de posição. Podemos pensar isso em função do que estudamos agora: rap, funk e literatura da periferia, não acham?
Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz o Tom. Enfrentar as luzes, os cartazes, e a platéia, onde distingui um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como nada tenho contra o tamborim. O importante é ter Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano - sangue novo ou a antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação pra exportar coisa alguma. Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha."