A última conferência que pude acompanhar foi a de Marcelo Moutinho que chegou se apresentando da seguinte maneira: “ao lado de outros pesquisadores de canção sou um intruso pelo fato de meu interesse ser literatura, sobretudo, a partir de Ítalo Calvino em ‘As cidades invisíveis’ e ‘Seis propostas para o próximo milênio’ buscando promover uma relação entre arte e a cidade do Rio de Janeiro que até os anos 70 demonstrara uma marca de apagamento local: ‘uma cidade com varias cidades dentro’”, segundo Marcos Rebelo. No momento seguinte Moutinho afirmara que a letra da canção é a literatura brasileira que realmente aconteceu. E encaminhou sua abordagem sobre que Rio de Janeiro seria esse que se descortinara dessas canções desde o século passado mesmo antes de serem cantadas. Entre outras temáticas aponta que a canção passa a falar da favela, da violência urbana em uma mistura fascinante e de estranhamento ao mesmo tempo. Dois olhares são possíveis para essas canções até os anos 80 – o idílico e o das mazelas. A partir dos anos 80 há saudosismo que se liga à brutalização da cidade.
Para Moutinho, do samba ao funk carioca a canção possibilitou a leitura da cidade em suas constantes transformações e, nada melhor do que uma listagem dessas canções, para que possamos pilotar nossa percepção desses espaços possibilitados por elas.
- Trilha sonora da cidade proposta por Moutinho:
- Olhar idílico:
- “Favela” (Roberto Martins e Valdemar Silva – 1936) - “Praça Onze” (Herivelto Martins e Grande Otelo – 1941) - “A Lapa” (Herivelto Martins e Benedito Lacerda – 1949)
- “História da Lapa” ( Wilson Batista -1957)
- “Copacabana” (Braguinha e Alberto Ribeiro – 1947)
- “Sábado em Copacabana” (Dorival Caymmi e Carlos Guinle)
- “Lua e Estrela” (Vinícius Cantuária)
- “Hotel Marina” (Antônio Cícero e Marina)
- “Meu lugar” ( Arlindo Cruz e Mauro Diniz)
- “Jacarepaguá” (Romeu Gentil, Marino Pinto e Paquito)
- “Eu quero é rosetar” (Haroldo Lobo)
- “Marcha do Caracol” (Peter Pan e Afonso Texeira)
- “Cordão dos puxa-sacos” (Roberto Martins e Frazão – 1946)
- “Vagalume” (Vitor Simon e Fernando Martins – 1954)
- “Cidade lagoa” ( Cícero Nunes e Sebastião Fonseca – 1959)
- “Cidade Mulher” (Noel Rosa)
- “Valsa de uma cidade” ( Antonio Maria e Ismael Neto)
- “Do Leme ao Pontal” ( Tim Maia)
- “Carioca” (Chico Buarque)
- “Samba do Avião” (Tom Jobim)
- “Garota de Ipanema” (Tom e Vinícius)
- “Samba de Verão” (Marcus e Paulo Sérgio Valle)
- O olhar da brutalização a partir dos anos 80:
- “Estação derradeira” (Chico Buarque)
- “Rio 40 graus,purgatório da beleza e do caos” (Fausto Fawcet e Fernanda Abreu)
- “Saudades da Guanabara” (Moacir Luz, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc)
- “O dia em que o morro descer e não for ao carnaval” (Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves)
- “Nomes de favela” (Paulo César Pinheiro – 2004)
- “Aquele abraço” (Gilberto Gil)
- “Rock n roll em Copacabana” (Miguel Gustavo)
- “Volta ao mundo” (Blitz)
- “Revanche” (Lobão)
- “Alagados” (Herbert Vianna)
- “Brixton, Bronx ou baixada” (Marcelo Yuca, Nelson Meirelles, Xandão / Marcelo Falcão / Marcelo Lobato)
- “175 nada de especial” (Gabriel o Pensador)
- “Traficando informação” (MVBill)
- “Melô do taca tomate” apropriação de “You talk to much”
- “Endereço dos bailes” (MCs Junior e Leonardo)
- “Nosso sonho” (Claudinho e Bochecha)
- “Eu só quero é ser feliz” (Julinho Rasta e Kátia)
- “Rap das armas” (MCs Junior e Leonardo)
- “Só dói quando eu Rio” ( Aldir Blanc e Moacir Luz)
Perguntas feitas pela platéia:
- Falta de canções “Rio antigo de Chico Anísio”; “Pavuna”;
- Você tem visto referencias nas canções sobre esse novo momento que o Rio está passando?
Ainda não vi isso presente mas ainda está muito recente.
- Os subgêneros do samba: bossa nova é um e pagode é uma corruptela.
- Como vê a distinção entre literatura e música?Letra de música é a literatura que deu certo e vejo isso em relação a veiculação. Uma colabora com a outra... A música se dispersa muito mais...Claro que não é literatura nos moldes clássico.
É isso aí... Minha estada nas conferências chegou ao fim... Até as próximas edições do evento... E parto com uma provocação... Literatura nos moldes clássicos não seria aquela com L maiúsculo?